Violência contra a mulher cresce 105,6% durante período de isolamento social na Paraíba

5 de junho de 2020

O período de distanciamento social em decorrência da pandemia do novo coronavírus tornou necessário que a população fique em casa para diminuir a propagação da Covid-19. Nesse momento, algumas famílias conseguem ficar juntas, mas você já imaginou como é estar isolada ao lado da pessoa que te machuca? Agressões verbais, físicas, hematomas e medo. Muitas mulheres têm relatado enfrentar mais casos de agressões por parte de seus companheiros durante a quarentena.

Esse contexto agravou um cenário de violência que as mulheres encaram cotidianamente. De acordo com dados nacionais do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, entre Março e Abril deste ano, o número de casos de feminicídio teve um aumento de 22,2% em relação ao mesmo período do ano passado. E as denúncias das vítimas realizadas pelo número 180 aumentaram em 36% durante o isolamento social.

Na Paraíba, o número de denúncias de casos de violência contra a mulher durante o primeiro mês de isolamento cresceu 105,6%. Esse mapeamento foi realizado através do aplicativo ‘SOS Mulher PB’ criado pelo empresário Fábio César e reconhecido pelo Governo Federal. A pesquisa identificou que o maior número de denúncias prestadas foram de violência psicológica, que até o mês de Abril cresceram em 132%. Enquanto a agressão física aumentou 53,3%, o abuso sexual cresceu em 54,5% e a violência patrimonial teve um crescimento superior a 97%.

Em Campina Grande, o Centro de Referência Estadual da Mulher Fátima Lopes recebe mulheres da cidade e de toda região da Borborema. De acordo com a coordenadora do Centro, Lisânia Monteiro, os acompanhamentos têm ocorrido de forma presencial e remota em algumas redes de apoio. “Aqui, na Paraíba, quando foi lançado o primeiro decreto, a rede estadual de atenção a mulheres, crianças e adolescentes vítimas de violência passou a pensar estratégias de atuação para manter os serviços que já acompanhavam algumas mulheres e também para garantir essas orientações aquelas que também necessitem do atendimento”, ressaltou.

De acordo com dados do Centro, a média de atendimentos por mês passou de 83 para 133 casos desde o início do período de isolamento social na cidade. “É importante que toda a sociedade compreenda que esse problema, além de ser global e multifacetado, também é de ordem cultural, de segurança, de saúde pública e requer atenção de toda sociedade. Então, se você está vendo a sua vizinha ser agredida e correndo o risco de passar por um possível feminicídio, é importante não omitir”, frisou.

As vítimas de violência podem entrar em contato com o Centro através do número (83) 98826-8834, para obter orientações sobre como proceder nos seus casos. O apoio também está sendo mantido para auxiliar as mulheres que possuem medidas protetivas próximas do vencimento ou que já passaram do prazo.

Devido ao contexto alarmante de feminicídio no Estado, a Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) criou, no ano passado, o Observatório do Feminicídio da Paraíba. Um projeto que trabalha no enfrentamento a esses crimes de ódio e mapeamento dos quadros de violência. Segundo o vice-reitor e professor da Instituição, Flávio Romero, que coordena o projeto, as atividades têm sido mantidas virtualmente, através de grupos, durante o distanciamento social.

“O levantamento de dados sobre aspectos do feminicídio e a sua situação na Paraíba continuam sendo levantados pelas instituições que tradicionalmente têm essa responsabilidade: a Secretaria de Segurança Pública do Estado da Paraíba, em parceria com a Secretaria da Mulher e da Diversidade Humana. Então, nossa atividade tem sido no sentido de manter as informações sendo debatidas e refletidas por todos nós que compomos o Observatório e atualizar o site para as pessoas que consultam terem informações atualizadas, não somente desses dados, mas também publicamos artigos e matérias que tratam da violência contra a mulher e feminicídio”.

É muito importante denunciar qualquer ato de violência contra mulher que você perceba ao seu redor. E se você tem sido a vítima, busque proteção, porque, mesmo isolada, você não está sozinha.

Números para denúncia:

197 (Disque Denúncia da Polícia Civil)
180 (Central de Atendimento à Mulher)
190 (Disque Denúncia da Polícia Militar)
(83) 98826-8834 – Contato do Centro de Referência da Mulher Fátima Lopes

Texto: Carla Patrícia